O visitante poderá apreciar fatos
marcantes da história política da
região, não só através de imagens, mas
documentos, recortes de jornais, objetos
do médico que atuava como oftalmologista
e clínico geral. Era apontado por muitas
gerações como o tradicional médico da
família que costumava ir às residências
ver seus pacientes.
Mas os episódios mais presentes na
memória da amostra, são o do homem
político e gestor que fazia sempre seu
papel diplomático. Em 1964, ano em que o
país amargava o começo de uma ditadura
militar, o então prefeito recebia a
visita do governador Paulo Guerra para
inaugurar um sistema de energia elétrica
na comunidade sertaneja.
Diante 'fofocas' e desavenças políticas
entre adversários que cercavam Guerra, o
prefeito manteve a calma que lhe era
peculiar, mas deu um recado
publicamente pedindo que se não pudesse
ajudar sua gestão, não atrapalhasse.
"Salgueiro se manterá às próprias
custas. Farei a administração que o povo
merece sem precisar da ajuda do Estado e
do presidente da República. Ele aqui
presente que diga se eu subi alguma vez as escadarias do Palácio das Princesas
para lhe pedir recursos?", indagou
Severino.
Grande parte das imagens expostas
registram o desenvolvimento do município
principalmente nos 60 quando ele assumiu
seu mandato como prefeito de 1963 a
1969. Uma série de ações marcou a sua
administração, em 1964, ano do
centenário da cidade fundada por seu
bisavô Raimundo de Sá. Ainda na
faculdade de medicina, no Recife, foi
que o horizonte da política lhe pegou de
surpresa. Terminado o 4º ano, sem que
soubesse, foi incluído na chapa para
disputar uma vaga como candidato a
deputado estadual pelo antigo PSD,
partido do ex-governador Agamenon
Magalhães.
A articulação da candidatura partiu do
então prefeito Osmundo Bezerra, juntamente com o coronel Joaquim
Angelim e o tio Joaquim Araújo. De
início resistiu, mas foi convencido pelo
também coronel Veremundo Soares a
entrar na disputa. Terminou aceitando,
mas alertou que se fracassasse ninguém
devia reclamar. Acabou sendo eleito e
cursou o 5º e 6º ano médico, exercendo o
cargo no legislativo.
Curadora da exposição, assinada pelo
designer Ticiano Arraes, a filha do
homenageado, Socorro Sá, explica que a
ideia vinha sendo projetada há cerca de
um ano, como forma de homenagear o pai e
conservar sua memória bem como da
história de Salgueiro. "A história dele
não é só familiar, mas está agregada a
fatos importantes da região quando foi
personagem influente na política e na
saúde pública até falecer em 1998",
justifica Socorro.
Exatamente no campo da política, Dr
Severino, como até hoje é chamado, tinha laços de amizade no papel de
correligionário com os ex-governadores
Miguel Arraes e Carlos Wilson.
Diplomático, ele costumava receber
visitas ilustres como Marco Maciel, o
ex-senador Nilo Coelho, o médico e
escritor Orlando Parahym, o músico Luiz
Gonzaga, além de deputados federais,
estaduais e lideranças da região.
"A exposição traduz em ordem cronológica
a trajetória do médico e do político,
desde o nascimento, a temporada do
adolescente em Minas Gerais, a faculdade
de medicina no Recife e termina com a
árvore genealógica da família", observa
Ticiano Arraes.
Todos os instrumentos, de trabalho como
médico também estão em um expositor
dentro da galeria. Além de documentos
pessoais, diplomas, títulos, prêmios e
certificados, o visitantes pode ler
despachos importantes de sua gestão.
Consta, por exemplo, em página de
Diário oficial do Estado que Severino
Sá foi um dos primeiros parlamentares do
Sertão a defender a motorização das
casas de farinha e a agricultura
irrigada no sertão, a partir da região
do Sertão do São Francisco, como Cabrobó
e Belém.
Para a esposa Clélia Soares um dos
marcos de seu papel na política foi a
construção do canal que corta o centro
da cidade e a conquista da maior escola
da região - que inicialmente foi
batizada de Escola Normal Regional de
Salgueiro e depois passou a se chamar
Escola Carlos Pena Filho.
O último compromisso político dele foi
em 1998, ao participar de um comício do
ex-governador Miguel Arraes na disputada
contra Jarbas Vasconcelos. Poucos dias
depois, Dr Severino sofreu um infarto,
foi internado e faleceu no Recife. |