“O sr. José Yunes recebeu
alguma contribuição de campanha para
alguma eleição de Vossa Excelência ou do
PMDB?”
A pergunta foi levantada,
no fim do ano passado, pelo ex-deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em
Curitiba por tentar obstruir a Lava
Jato. Era endereçada, entre outros
questionamentos, a Michel Temer,
arrolado como testemunha de defesa do
ex-presidente da Câmara, mas barrada
pelo juiz Sergio Moro. O magistrado viu
em parte das questões uma tentativa de
constranger o presidente.
Yunes, advogado, é amigo
de Temer e trabalhou como assessor
especial do governo até meados do ano
passado, quando o ex-executivo da
Odebrecht Claudio Melo Franco disse em
delação premiada que ele recebeu
dinheiro vivo em seu escritório em São
Paulo. Pouco depois, Yunes deixou o
cargo para poder se defender.
A história voltou ao
noticiário nesta semana após o advogado
comparecer espontaneamente à
Procuradoria-Geral da República para
esclarecer o assunto. Yunes, na
tentativa de se salvar, entregou outro
braço-direito de Temer, num sinal de
rompimento que pode ser interessante
acompanhar pelos próximos capítulos.
Em entrevista à Folha
de S.Paulo, o advogado disse ter
sido usado como “mula” e jamais soube da
origem ou do destino do recurso para
campanhas. Garante ter atendido apenas
um pedido do ministro Eliseu Padilha
(foto), chefe da Casa Civil, para
receber um “pacote”, de conteúdo
desconhecido, em seu escritório, mas foi
surpreendido quando apareceu no local o
doleiro Lúcio Funaro, suspeito de ser o
operador do ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha em esquemas de corrupção.
Preso na Papuda, o
doleiro é apontado como o elo de três
investigações da PF, a Sépsis,
Greenfield e Cui Bono?. Dele se espera
detalhes sobre desvios e lavagem de
dinheiro em grandes empresas suspeitas,
por exemplo, de receber aportes da Caixa
Econômica Federal e outras entidades
públicas comandadas pelo grupo em troca
de propina.
Resultado: no dia da
denúncia, Padilha pediu licença do
governo para tratar da saúde (na semana,
a saúde também foi o motivo alegado pelo
tucano José Serra, também citado na Lava
Jato, para deixar o Planalto).
Da lista de questões
enviadas por Cunha de sua cela em
direção ao Planalto, o que mais chama a
atenção é que tanto o remetente quanto o
destinatário sabem a resposta.
Quem não sabe somos nós,
mas podemos captar alguns sinais.
Em sua delação, o citado
ex-executivo da Odebrecht descreve uma
reunião, ocorrida em 2014, em que o
Temer pediu dinheiro para o PMDB a
Marcelo Odebrecht, então presidente do
grupo, e também preso nas investigações.
Conseguiu R$ 10 milhões, dos quais R$ 6
milhões foram para a campanha do
peemedebista Paulo Skaf ao governo de
São Paulo e R$ 4 milhões para Padilha
distribuir.
A conta do pato, quem
diria, estava paga.
Yunes foi o receptor de
R$ 1 milhão a pedido de Padilha, via
Funaro. O valor coincide com o que o
delator da Odebrecht disse ter sido
destinado a Eduardo Cunha, o autor das
perguntas.
Para não perder o fio:
Skaf é o presidente da federação das
indústrias que serviu de QG, com patos
espalhados pelo Brasil inteiro, do
impeachment. Cunha foi quem levou ao
Congresso o pedido de impeachment contra
Dilma Rousseff em razão das chamadas
pedaladas fiscais.
Na ocasião, um deputado
do PMDB defendeu a anistia, pelos bons
serviços prestados à nação, a Eduardo
Cunha, que da cadeia tenta intimidar o
agora presidente – palavras de Sergio
Moro – e mostrar que são mais próximos
do que Temer gostaria de dizer em
público, apesar dos inúmeros encontros
secretos entre eles antes da prisão.
O deputado era Osmar
Serraglio (PMDB-PR), que acaba de ser
indicado ao Ministério da Justiça, ao
qual a Polícia Federal é subordinada.
Serraglio ganhou o posto após uma série
de medidas protelatórias na Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara para
atrasar a cassação de Cunha, seu aliado. |