SALGUEIRO - No ano de 1991, a
comunidade católica de Salgueiro, no
Sertão Central, foi surpreendida de
maneira brutal com o assassinato do
padre português José Maria de Prada,
ocorrido no salão da Paroquial de Santo
Antônio, padroeiro da cidade. O crime
foi cometido por um ex-sargento da
Polícia Militar que teria se vingado
porque o religioso não cancelaria seu
casamento no religioso, após vários
pedidos. O acusado fugiu e jamais
chegou a ser detido ou condenado pelo
crime. Em meio ao caso que foi destaque
no noticiário nacional, a igreja estava
recebendo a chegada de um novo padre que
assumiria o posto em julho daquele ano.
Na
efervescência negativa dos fatos, a
população já se juntava ao recém-chegado
padre italiano Remigio de Vettor (desde
então passou a ser chamado pela
comunidade de padre Remi) que encabeçou
uma campanha até em seus sermões, ao
longo dos anos 90, de combate à
violência e tráfico de drogas que
dominava o Sertão. Já
se vão 26 anos de trabalhos na região,
ao tempo que este mês, o religioso
comemora 50 anos de sacerdócio com uma
trajetória iniciada em sua terra natal,
na Itália. Para comemorar as bodas
sacerdotais, a Casa da Cultura da
cidade, abre hoje suas portas, às 19h,
para a exposição
'Padre Remi - A Voz Profética do
Sertão",
que reúne mais de cem fotografias em
preto e branco e policromia, além de
objetos sacros pertencentes ao
religioso.
As
imagens farão uma espécie de linha do
tempo mapeando desde a infância em
Belluno, na Itália, marcada pela morte
do pai na 2ª Guerra Mundial, a
juventude, os estudos de teologia, o
início do sacerdócio, sua chegada ao
Brasil com as passagens em diversas
paróquias no Rio Grande do Sul e depois
Rio de Janeiro, até se transferir paro o
Nordeste.
Integrante da comissão organizadora da
amostra, a advogada Neide Barros,
ressalta que a exposição vai além de uma
homenagem ao religioso."É uma forma de
se contar sua história para muitos fiéis
que frequentam a igreja, mas, poucos
sabem sobre suas origens e até mesmo seu
trabalho social voltado para famílias
pobres da região", observa Neide. No
esboço da programação, estão previstas
três celebrações comemorativas. A
primeira será amanhã(1º), às 19 h, no
Santuário de Mãe Rainha. As outras duas
ocorrerão, no próximo domingo, às 9h no
Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e às 19h na Catedral de
Santo Antônio, no centro da cidade.
Quem visitar a exposição vai poder
conhecer a história do vigário no
formado de linha do tempo que começa em
1939 com seu nascimento no Vilarejo
Casan, interior da Itália e seu batismo
na igreja de Cadola. Aos dois anos de
idade, seu pai Antônio de Vettor, teria
sido convocado para lutar na segunda
guerra mundial tornando-se prisioneiro
nos campos de concentração, onde acabou
morrendo anos depois.
Decidido
a dedicar sua vida ao mundo religioso
do catolicismo, em 1948, Remi segue
para o Internato Guanelliano e lá recebe
o sacramento da Confirmação – com o óleo
do Crisma. Sua ordenação sacerdotal
ocorreu em 1967, na Igreja de Santa
Cruz, em Jerusalém, localizada em Roma.
A vida social do religioso também é
focada em algumas imagens, pois, amante
dos esportes, gostava de escalar até o
topo da Montanha Grignetta como registra
uma das imagens. O último bloco
da exposição traduz a chegada de Padre
Remi ao Sertão de Pernambuco para atuar
na paróquia de Nossa Senhora da
Conceição, na cidade de Serrita,
atendendo às comunidade de Cedro, Exu,
Moreilândia e Granito. Em 2 de junho de
1991, assume a Paróquia de Santo Antonio
em Salgueiro.
POLÍTICA -
Famoso
por seu perfil combativo e por não ter
papas na língua ao falar de política, o
religioso é considerado um dos maiores
críticos do sistema político do país.
Uma das imagens expostas mostra padre
Remi celebrando a tradicional Missa do
Vaqueiro, em Serrita, ao lado do então
governador Carlos Wilson. Nesse dia,
criticou que a missa gerava muitos
recursos em nome do vaqueiro homenageado
Raimundo Jacó, mas a viúva vivia em
estado de pobreza, sem uma
aposentadoria, cobrança que o fez
publicamente.
A
passagem por Salgueiro, para ele e
alguns amigos, tem sido foi uma das
mais atuantes porque sempre teve
simpatia por povos de vilarejos e
sertões. "Mais do que carreira, a vida
do padre é uma doação, é uma missão.
Salgueiro representa a cidade mais
querida da minha vida com certeza. O
lugar que mais atuei e que mais doei a
minha vida, as minhas forças, pelo bem
desta cidade, que tem provado muitas
coisas negativas, como a violência e
drogas. Mas, onde mais se sofre, mais
se ama, e com certeza Salgueiro tem o
meu grande amor", declarou Remi
ressaltando que pretende terminar seus
dias na cidade sertaneja. "Acho que Deus
me chamou aqui e aqui quero ficar". |