SALGUEIRO
 

Sexta-feira, 31 de Março de 2017

 

Exposição em Salgueiro comemora 50 anos de sacerdócio do padre italiano Remi de Vettor

 

Foto: Héliton Araújo

SALGUEIRO - No ano de 1991, a comunidade católica de Salgueiro, no Sertão Central, foi surpreendida de maneira brutal com o assassinato do padre português José Maria de Prada, ocorrido no salão da Paroquial de Santo Antônio, padroeiro da cidade. O crime foi cometido por um ex-sargento da Polícia Militar que teria se vingado porque o religioso não cancelaria seu casamento no religioso, após vários pedidos.  O acusado fugiu e jamais chegou a ser detido ou condenado pelo crime. Em meio ao caso que foi destaque no noticiário nacional, a igreja estava recebendo a chegada de um novo padre que assumiria  o posto em julho daquele ano.

Na efervescência negativa dos fatos, a população já se juntava ao recém-chegado padre italiano Remigio de Vettor (desde então passou a ser chamado pela comunidade de padre Remi)  que encabeçou uma campanha até em seus sermões, ao longo dos anos 90, de combate à violência e tráfico de drogas que dominava o Sertão. Já se vão 26 anos de trabalhos na região, ao tempo que este mês, o religioso comemora 50 anos de sacerdócio com uma trajetória iniciada  em sua terra natal, na Itália. Para comemorar as bodas sacerdotais,  a Casa da Cultura da cidade, abre hoje suas portas, às 19h, para a exposição 'Padre Remi - A Voz Profética  do Sertão", que reúne mais de cem fotografias em preto e branco e policromia, além de objetos sacros pertencentes ao religioso.

As imagens farão uma espécie de linha do tempo mapeando desde a infância em Belluno, na Itália, marcada pela morte do pai na 2ª Guerra Mundial,  a juventude, os estudos de teologia, o início do sacerdócio, sua chegada ao Brasil  com as passagens em diversas paróquias no Rio Grande do Sul e depois Rio de Janeiro, até se transferir paro o Nordeste.

Integrante da comissão organizadora da amostra, a advogada  Neide Barros, ressalta que a exposição vai além de uma homenagem ao religioso."É uma forma de se contar sua história para muitos fiéis que frequentam a igreja, mas, poucos sabem sobre suas origens e até mesmo seu trabalho social voltado para famílias pobres da região",  observa Neide. No esboço da programação, estão previstas três celebrações comemorativas. A primeira será amanhã(1º), às 19 h,  no Santuário de Mãe Rainha. As outras duas ocorrerão, no próximo domingo, às 9h no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e às 19h na Catedral de Santo Antônio, no centro da cidade.

Quem visitar a exposição vai poder conhecer a história do vigário no formado de linha do tempo que começa em 1939 com seu nascimento no Vilarejo Casan, interior da Itália e seu batismo na igreja de Cadola. Aos dois anos de idade,  seu pai Antônio de Vettor, teria sido convocado para lutar na segunda guerra mundial tornando-se prisioneiro nos campos de concentração, onde acabou morrendo anos depois.

Decidido a dedicar sua vida ao mundo religioso do catolicismo, em 1948, Remi segue para o Internato Guanelliano e lá recebe o sacramento da Confirmação – com o óleo do Crisma. Sua ordenação sacerdotal ocorreu em 1967, na Igreja de Santa Cruz, em Jerusalém, localizada em Roma. A vida social do religioso também é focada em algumas imagens, pois, amante dos esportes, gostava de escalar até o topo da Montanha Grignetta como registra uma das imagens. O último bloco da exposição traduz a chegada de Padre Remi ao Sertão de Pernambuco para atuar na paróquia de Nossa Senhora da Conceição, na cidade de Serrita, atendendo às comunidade de Cedro, Exu, Moreilândia e Granito. Em 2 de junho de 1991, assume a Paróquia de Santo Antonio em Salgueiro.

POLÍTICA - Famoso por seu perfil combativo e por não ter papas na língua ao falar de política, o religioso é considerado um dos maiores críticos do sistema político do país. Uma das imagens expostas mostra padre Remi celebrando a tradicional Missa do Vaqueiro, em Serrita, ao lado do então governador Carlos Wilson. Nesse dia, criticou que a missa gerava muitos recursos em nome do vaqueiro homenageado Raimundo Jacó, mas a viúva vivia em estado de pobreza,  sem uma aposentadoria, cobrança que o fez publicamente.

A passagem por Salgueiro, para ele e alguns amigos,  tem sido foi uma das mais atuantes porque sempre teve simpatia por povos de vilarejos e sertões. "Mais do que carreira,  a vida do padre é uma doação, é uma missão. Salgueiro representa a cidade mais querida da minha vida com certeza. O lugar que mais atuei e que mais doei a minha vida, as minhas forças, pelo bem desta cidade, que tem provado muitas coisas negativas, como a violência e drogas. Mas, onde mais se sofre,  mais se ama, e com certeza Salgueiro tem o meu grande amor", declarou Remi ressaltando que pretende terminar seus dias na cidade sertaneja. "Acho que Deus me chamou aqui e aqui quero ficar".